Reforma administrativa avança na agenda política com prioridade de Motta e apoio de Barroso e Dweck
A reforma administrativa voltou ao centro das discussões
nacionais nesta quarta-feira, 27 de agosto, durante a segunda edição do Agenda
Brasil, evento realizado em Brasília por O GLOBO, Valor Econômico e rádio
CBN.
O encontro reuniu autoridades dos Três Poderes e
especialistas para debater os rumos da proposta que pretende reorganizar o
serviço público no país.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta
(Republicanos-PB), afirmou que o tema é prioridade para o segundo semestre
legislativo e destacou que o objetivo do Congresso não é perseguir servidores,
mas buscar maior eficiência na máquina pública.
Em sua avaliação, chegou o momento de o Legislativo oferecer
respostas concretas à sociedade.
““No que depender da presidência, vamos dar total prioridade
a essa tramitação. Há certo sentimento de que chegou a hora do Congresso se
posicionar de como podemos entregar à população que mais precisa serviços de
qualidade, combater o desperdício e ter mais eficiência na prestação do serviço
público”, disse Motta.
O presidente da Câmara reiterou que a PEC 32,
proposta discutida no governo anterior e que previa o fim da estabilidade no
serviço público, não será retomada. “O objetivo da Casa não é fazer uma reforma
administrativa perseguindo o servidor público”, afirmou, acrescentando que a
reforma inevitavelmente trará medidas que desagradarão a determinados setores.
“Não vamos fazer uma reforma administrativa agradando a todos. Para rever
eficiência do Estado é preciso tomar uma medida que desagrade um ou outro.”
Motta explicou ainda que a Casa pretende iniciar os debates
a partir de uma proposta já em construção, com base nas discussões feitas pelo
grupo de trabalho coordenado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ). “Após comissão
geral, conversas com bancadas e o périplo nas bancadas, é fazer um ajuste fino
daquilo que teve resistência e precisa mudar, porque nessas conversas surgem
sugestões, mas termos uma proposta e darmos início ao processo legislativo de
debate e votação”, pontuou.
Ministra Esther Dweck defende cooperação federativa e
vínculo entre estabilidade e desempenho
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos,
Esther Dweck, reforçou a importância de que a reforma administrativa
envolva não apenas o governo federal, mas também Estados e municípios,
dada a dimensão do quadro de servidores no país.
“Não adianta reestruturação do Estado no âmbito federal sem
participação de Estados e municípios”, declarou.
Ela citou dados que apontam que, dos 7 milhões de
servidores estatutários existentes, apenas 500 mil estão no Executivo
federal, o que reforça a necessidade de soluções abrangentes.
Dweck afirmou que vê com “bons olhos” a busca de eficiência
e modernização, mas destacou que a estabilidade dos servidores deve ser
entendida como proteção ao Estado e não ao mau servidor. “A estabilidade é
essencial à proteção do Estado, mas vinculada à avaliação de desempenho”,
ressaltou.
A ministra enfatizou o diálogo do Executivo com o grupo de
trabalho da Câmara, sob coordenação do deputado Pedro Paulo.
Segundo ela, o governo tem trabalhado em três grandes eixos:
pessoas, digital e organizações. “Uma das coisas interessantes no nosso
diálogo é que o GT aproveitou muitas coisas que fizemos no âmbito federal para
nacionalizar, o que para nós é muito importante”, avaliou.
Ela explicou que o governo está refinando as propostas do
Congresso e buscará aprovar medidas estruturantes ainda neste semestre, em
convergência com o Legislativo. “O Executivo está unido com o Congresso no
objetivo de combater privilégios”, disse.
Bonificação e limites fiscais
A ministra também tratou da proposta de criação de um
sistema de bonificação por desempenho. Dweck destacou que, apesar de
considerar a lógica positiva, não há atualmente espaço fiscal para adoção da
medida.
“A proposta é boa, mas o impacto fiscal obrigatório pode
gerar alguma necessidade de impacto fiscal que hoje a gente não tem”, explicou.
No Executivo federal, segundo ela, o modelo adotado segue
lógica oposta: quem não cumpre o plano de trabalho sofre redução salarial.
“Hoje eu não tenho condições de dar uma 14ª folha porque
vamos enviar o Orçamento na sexta-feira, 29, e estamos no limite do teto”,
afirmou.
Para a ministra, no entanto, a política de incentivos pode ser útil: “A lógica de ter alguma punição ou gratificação para o desempenho ajuda na melhora da avaliação. O ideal é que as pessoas tenham interesse em ir bem”.
Barroso aponta excesso de judicialização e defende
legislação unificada
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Luís Roberto Barroso, também participou do evento e destacou a alta
litigiosidade contra o poder público no Brasil.
Segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 90%
das ações judiciais contra o Estado envolvem servidores públicos ou
questões tributárias, previdenciárias, de saúde e trabalhistas.
“Servidor público encabeça a lista porque a legislação é um
emaranhado de normas e você tem centenas de milhares de ações pedindo
equiparação, adicional de tempo de serviço”, explicou o ministro.
Para ele, uma reforma administrativa que estabeleça uma
legislação unificada e objetiva pode reduzir significativamente esse
volume de litígios.
Barroso ressaltou, no entanto, a dificuldade de avançar na
pauta, que “mexe com culturas e valores extremamente arraigados na vida
brasileira”.
Ele lembrou ainda que já houve uma tentativa anterior sem
resultados expressivos: “A reforma administrativa aprovada durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso não produziu nenhum resultado significativo no
serviço público e na qualidade do gasto”.
O ministro disse ter tido “a chance de passar os olhos” na nova proposta elaborada pela comissão designada pelo presidente da Câmara e conduzida por Pedro Paulo, e considerou que há avanços em relação a iniciativas passadas.
Pedro Paulo defende tabela unificada como eixo central da
reforma
O deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), relator da reforma
administrativa e coordenador do grupo de trabalho da Câmara, destacou a
proposta de criação de uma tabela remuneratória padronizada.
“O que nos unifica é a tabela remuneratória unificada e
padronizada. O que o IVA foi para a reforma tributária, a tabela unificada vai
ser para a reforma administrativa”, afirmou.
Segundo ele, a medida ataca diretamente as desigualdades
no serviço público, ao organizar salários, valorizar servidores e revisar
carreiras.
Pedro Paulo explicou que a convergência entre Executivo e
Legislativo em torno da proposta é fundamental para o sucesso da tramitação.
Ele destacou que a tabela “ataca o coração das desigualdades
do serviço público, organiza o sistema de salários para efetivamente valorizar
o servidor, rever as carreiras e questões salariais”.
O deputado afirmou que a meta do grupo é apresentar um texto
consistente ainda neste semestre, permitindo que a reforma avance no Congresso
em sintonia com as prioridades da Câmara e com o apoio do Executivo.
A Câmara dos Deputados confirmou para o próximo dia 3 de
setembro a realização de uma audiência pública no plenário destinada a discutir
a reforma administrativa.
Medidas previstas
Em entrevistas recentes, o deputado Pedro Paulo detalhou
algumas das cerca de 70 medidas que devem compor a proposta.
Ele reconhece que haverá impacto financeiro positivo, mas
nega que a questão fiscal seja o objetivo central.
Entre os pontos destacados, estão:
- combate
aos supersalários;
- limitação
do trabalho remoto a um dia por semana;
- fixação
de 30 dias de férias por ano, em contraposição aos 60 dias concedidos a
magistrados;
- fim
da aposentadoria compulsória como forma de punição para magistrados
afastados por irregularidades;
- regras
gerais nacionais para avaliação de desempenho e pagamento de bônus por
resultados;
- maior
rigor na análise durante o estágio probatório;
- parâmetros
unificados para realização de concursos, com possibilidade de utilização
de vagas do Concurso Nacional Unificado (CNU) também em estados e
municípios;
- exigência
de pelo menos 20 níveis na carreira das categorias;
- salário
inicial limitado a aproximadamente metade do valor recebido no final da
carreira.
Segundo o relator, “a reforma administrativa vem para cortar
privilégios e modernizar o Estado, com foco em mérito e eficiência”.
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