Concurso Nacional Unificado: entenda o Guia Referencial para Concursos Públicos - parte final
Na última matéria sobre o Guia Referencial para Concursos Públicos, da Enap (Escola Nacional de Administração Pública), vamos abordar a disciplina Sociedade e Diversidade, do eixo transversal Sociedade, Dinâmica Econômica e Realidade Brasileira.
O guia da ENAP é o documento do Ministério da Gestão e da
Inovação em Serviços Públicos (MGI) que será usado pela Fundação Cesgranrio,
banca escolhida pelo MGI, para fundamentar o edital do Concurso Nacional
Unificado.
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Sociedade e Diversidade: a inclusão de grupos sociais,
políticas públicas e ações afirmativas
De acordo com o Guia Referencial para Concursos Públicos, da
Enap, “a diversidade nas sociedades contemporâneas não pode ser tomada na
perspectiva das hierarquias sociais, que exclui os considerados diferentes,
cerceia oportunidades e acesso a direitos sociais.”
O texto explica que essas hierarquias foram construídas
historicamente nas relações assimétricas de poder: “é a partir de tais relações
que a diversidade deve ser compreendida sob perspectiva crítica, ou seja,
enquanto construção social, histórica e cultural das diferenças.”
Contexto histórico
O documento aponta que as últimas décadas do século XX foram
marcadas por lutas políticas em torno da conquista de direitos sociais em
diferentes países do mundo, estimuladas pelos movimentos sociais surgidos em
diferentes países ocidentais no final da década de 1960
Dessa forma, segundo o Guia, “as lealdades políticas
baseadas em classes sociais foram questionadas por movimentos sociais
atravessados por outras questões identitárias que afetavam grupos específicos
como mulheres, LGBTQIA+, pessoas negras, imigrantes, dentre outros.”
Política Identitária
O debate sobre as políticas públicas identitárias devem cair
nas provas do concurso unificado. O tema está presente no guia. De acordo com o
documento, “essas expressões deram origem ao que ficou conhecido como política
de identidade, mobilizada por diferentes movimentos sociais que se preocupavam
com o que significavam, como eram produzidas e como poderiam ser contestadas as
diferentes identidades sociais e culturais. Em síntese, a política de
identidade consistiu em afirmar a identidade cultural dos diferentes grupos
sociais ou étnico-raciais marginalizados ou excluídos.”
Como consequência, conforme o Guia, “as ações afirmativas
também se articulam às políticas de identidade, vez que são compreendidas como
um conjunto de ações e/ ou políticas públicas de caráter compulsório ou
facultativo com o objetivo de promover determinados grupos sociais ou
étnico-raciais com histórico comprovado de discriminação ou exclusão, no
sentido de alcançar a justiça social.”
O texto lembra que essas medidas foram mais utilizadas no
mercado de trabalho, nos níveis mais elevados de escolaridade e na
representação política de pessoas negras, mulheres e minorias étnicas.
E traz três dimensões que nas sociedades democráticas
modernas justificam políticas dessa natureza: reparação histórica,
redistribuição e diversidade.
Reparação: está calcada no reconhecimento de que
determinados grupos estiveram à margem das oportunidades e herdaram
desvantagens motivadas pelas práticas institucionais ou não de exclusão e
discriminação.
Redistribuição: faz mais sentido em sociedades com índices
comprovados de desigualdades sociais e, principalmente, econômicas, como a
sociedade brasileira. Políticas públicas focalizadas na redistribuição de bens,
riquezas ou que compensem e protejam as camadas mais desfavorecidas estão
conectadas ao modelo de Estado de Bem-Estar Social.
Diversidade: foi compreendida por diferentes juristas
norte-americanos como promotora da melhor qualidade dos serviços prestados, uma
vez que um ambiente mais plural favorece a troca com diferentes experiências
vividas, contribui para a formação de melhores profissionais conhecedores de
diversas realidades sociais.
Igualdade de oportunidades
O Guia Referencial para Concursos Públicos, da Enap, explica
que um dos principais fundamentos das ações afirmativas é o princípio da
igualdade de oportunidades, forte teor do Estado Democrático de Direito e um
dos princípios constitucionais do Brasil.
A igualdade de oportunidades tem dois importantes
componentes, revela o texto: a igualdade formal ou jurídica e a igualdade
substantiva ou material.
O primeiro está relacionado às proibições das manifestações
de preconceito ou discriminações motivadas por gênero ou raça, por exemplo, por
agentes públicos, da iniciativa privada ou individualmente.
O segundo visa assegurar a todos os sujeitos,
independentemente de condicionantes sociais ou raciais, condições e chances
para conquistar bens essenciais para a existência ou competir por cargos e
postos que estão na estrutura básica da sociedade.
Isso se justifica uma vez que as desigualdades históricas e
estruturais impedem que as condições de competição sejam justas para
determinados grupos sociais ou étnico-raciais. Portanto, as ações afirmativas
podem contribuir para a transição do paradigma da igualdade formal para a
igualdade substantiva.
Para isso, é imprescindível uma postura ativa, afirmativa e
concreta do Estado no sentido de promover ou estimular políticas que mitiguem
ou revertam as situações de desvantagens sociais ou econômicas para combater as
desigualdades, em todas as suas dimensões, tendo como horizonte a promoção da
justiça social.
Neste século, são essenciais para a prática profissional
conhecimentos e atitudes de servidores públicos sobre a situação das pessoas
negras, indígenas, LGBTQIA+, pessoas idosas, mulheres e pessoas com
deficiência. O Brasil é um país marcado por uma rica diversidade cultural,
social e étnica, com uma história de resistência e luta pelos direitos desses
grupos.
É importante que essa diversidade seja compreendida como
algo positivo a partir da valorização das diferenças e que estas se configurem
como potenciais vetores para o desenvolvimento.
Neste tópico de conteúdo, a centralidade está voltada ao
conhecimento e domínio dos principais fatores da desigualdade de raça, gênero e
etnia.
O papel do Estado aqui é o de indutor e promotor das
políticas de direitos humanos, de promoção da igualdade racial e de gênero.
Vale destacar também que a efetivação dos direitos humanos
no Brasil é responsabilidade de agentes públicos, juntamente com demais atores
da sociedade.
Neste ponto, a terceira versão do Programa Nacional de
Direitos Humanos (PNDH-3) tem eixos específicos sobre desenvolvimento e
direitos humanos, e a universalização desses direitos a partir de um contexto
de desigualdade, com indicação de formas de intervenção.
Assim, a análise sobre a sociedade e a realidade brasileira,
a partir da perspectiva das desigualdades e diversidades nacionais, deve passar
por temas como:
a. Compreensão macroestrutural das desigualdades econômicas,
sociais e territoriais como fundamento e método de atuação no serviço público;
b. Articulação multinível entre problemas e políticas
públicas como fundamento e método de atuação do Estado para a provisão de
serviços públicos, a promoção do bem-estar social e do desenvolvimento
multidimensional;
c. Dinâmica e estrutura demográfica;
d. Classes e mobilidade social;
e. Discriminação e exclusão social;
f. Distribuição de renda;
g. Violência;
h. Diferenciações regionais-espaciais;
i. Condições de vida e de trabalho;
j. Desenvolvimento urbano brasileiro: população rural e
urbana; natalidade e mortalidade; expectativa de vida e envelhecimento
populacional;
k. Racismo, preconceito racial, discriminação racial,
branquitude e ideologia do branqueamento;
l. Relações étnico-raciais: história e trajetória das
populações negras no Brasil e suas contribuições para a formação da sociedade
brasileira; políticas de promoção da igualdade racial e as lutas por direitos
civis das populações afetadas pela discriminação racial;
m. Conquista de direitos sociais de grupos subalternizados
como mulheres, comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência;
n. Articulação entre a interseccionalidade e suas interfaces
com marcadores sociais de raça, classe, gênero, orientação sexual e identidade
de gênero, compreendendo o debate sobre discriminação e exclusão social,
violência; condições de vida e trabalho.
Pronto, essa foi a matéria final sobre o Guia Referencial
para Concursos Públicos, da Enap (Escola Nacional de Administração Pública),
que será usado como referência para a elaboração do edital do Concurso Público
Nacional Unificado. Agora você já tem a bússola perfeita para iniciar os seus
estudo rumo a elite do serviço público. Boa sorte!